Quem sou eu

Santa Maria/Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brazil
Tome sua dose de Litera Rock ou cale-se para sempre!

28 de set. de 2012


(Imaginário irreal)
Parte II

Inesperadamente, ele parou; já não havia mais solas em seus sapatos, nem percepção de espaço, apenas o uivo, prolongado e agudo, do vento. Sentado na beira da estrada, sentia-se como um cacto, retido em reflexões e lembranças de outrora. Súbito, levantou-se e começou a caminhar descalço pela areia, quente e áspera do deserto. À medida que andava, fatigado e sem forças, suas pernas cambaleavam em busca de equilíbrio. Por fim, deparou-se com a única e resistente, árvore que ali estava. Cumprimentou-a e perguntou: 

- Por quem espera velha árvore? – disse o viajante, surpreso ao vê-la. 

- Espero pelo raio, corajoso viajante – respondeu ela. – Antigamente, eu era forte, robusta e cheia de frutos. Por muito tempo, fui testemunha de muitos pensadores que vinham até aqui para desfrutar de minha sombra. Porém, hoje, sou uma simples e velha árvore que espera pela tempestade. O sucesso arruinou-me.E de fato, pertencemos a tempos diferentes, porém com o mesmo acaso – refletiu ele. Nesse momento, sentou-se próximo a ela, fumou um cigarro e, repentinamente, adormeceu.

(Geison Oliveira)

27 de set. de 2012

(Imaginário irreal)

Parte I

No meio do caminho nada era perfeito, haviam pedaços de segredo espalhados por todas as partes. Andei vinte e poucos metros e avistei ao longe, na estrada, duas velhas senhoras trocando xingamentos e arranhões, numa ferrenha luta para ficar com o maior pedaço de miséria que estava pendurado num galho de solidão. Primeiramente fiquei parado, apenas observando, mas logo em seguida, perdi a cabeça, corri até elas e gritei: Parem! Vocês não estão vendo que estão assustando a imaginação com toda essa baderna? Prontamente elas voltaram os olhos para mim e a mais triste delas me perguntou esfregando as mãos: O bondoso senhor tempo, tens uma moeda para me ajudar? Não, respondi. Meus olhos rapidamente se abriram, e eu recomecei a viver na doce juventude dos meus 99 anos.

(Marcelo Rosa)

3 de set. de 2012


O SARCASMO

Quebra todas as vidraças, mas deixa as almofadas intactas e em seus devidos lugares. Escova seus dentes e mesmo assim, tem um hálito insuportável como se tivesse saboreado pequenos pedaços de guerra e paz.
Rude e sagaz, queima a carne e serve a seus ilustres convidados com a mais pura sinceridade, que herdou de seus antecessores. E sem a mínima intenção, torna-se refúgio dos modestos e virtuosos perante a sociedade recatada.


(Marcelo Rosa)