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1 de fev. de 2011

Clarice e a morte

“Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça na árvore e morreu.”

A frase acima encerra o conto “O grande passeio”, de Clarice Lispector. Talvez o correto para essa frase fosse: “Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça na árvore e dormiu.” Em nosso mundo, existe uma lógica que determina a ordem das coisas. Existe uma relação de causa e conseqüência para todos os eventos. Tudo o que não obedece a esta lógica preestabelecida pertence ao reino do desconhecido. Por isso (e por diversas outras razões), a literatura de Clarice é mágica. A autora subverte esta lógica ao seu bel prazer, por que se recusa a aceitá-la. Ela permite que o absurdo adentre a sua obra e manifeste-se na mais medíocre das existências. No nosso mundo, as pessoas não morrem por que estão cansadas. Mas para Clarice, o cansaço pode ser a causa para a morte de alguém. A causa e o pretexto, como se morrer fosse fácil. Mas no nosso mundo, morrer é difícil. Às vezes, é um processo lento e doloroso; em outras, violento e inesperado. Mas Clarice não aceita nenhuma dessas formas: ela deseja que morrer seja fácil como dormir.

(por DIEGO EDUARDO DILL)

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