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24 de jan. de 2011

O destino de Sanchez

A hélice do ventilador de teto da estação rodoviária girava para ninguém, girava para espantar o próprio calor. Os cartazes de coca cola perderam a coloração de tanto o sol bater no vidro em que eles estavam presos, o mesmo acontecera com os ladrilhos nas paredes e com a mulher no guichê. Era possível que ela permanecesse ali durante a noite, que ela estivesse a mais tempo naquele lugar do que os cartazes de coca cola. Sanchez desistiu de comprar uma bebida e acendeu um cigarro. Olhou para a santa em um altar improvisado e clamou por proteção. O ônibus chegaria em quinze minutos e ele deixaria o seu passado para trás. Ninguém saberia que ele estava fugindo se o plymouth cinquenta e oito vermelho não houvesse parado em frente à estação. Desembarcaram quatro homens armados. Sanchez olhou uma última vez para a mulher no guichê, para a santa e deu uma última baforada no seu cigarro. É uma pena não poder termina-lo, pensou. A mulher do guichê não se moveu enquanto Sanchez foi assassinado. O seu sangue tinha a mesma coloração dos cartazes de coca cola, que eram desbotados como a pintura vermelha do plymouth que trouxera os seus assassinos. O ônibus no qual ele fugiria chegou pouco depois. Os passageiros encontraram a mulher no lugar onde sempre estivera, os cartazes na parede, a santa no altar e o corpo de Sanchez, que também parecia pertencer aquele cenário.

(por Diego Eduardo Dill)

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